segunda-feira, 18 de abril de 2011

REALENGO - QUEM É O VERDADEIRO ASSASSINO?


(por Luiz Henrique Prieto)


Agora que a poeira baixou, hora de dar meu pitaco!

A tragédia de Realengo, que assolou o país na semana passada, ganhou ares de massacre, chacina, falha na segurança pública, fanatismo religioso, dentre outros.

Alguns bocudos chegaram a dizer que a solução seria a implantação de detectores de metais, como se isso fosse resolver o problema!

A Igreja supostamente freqüentada pelo rapaz, tratou rapidamente de emitir uma nota oficial, obviamente, querendo desvincular o seu culto da ação do atirador.

Outros, disseram que o rapaz jamais sofrera bullyng, fato desmentido pela turma que atazanou a adolescência do moço!

Uns terceiros, afirmaram que o rapaz teve treinamento especializado para manusear as armas, incluindo o manuseio do carregador rápido.

Enfim, muita asneira foi dita e cada um tratou de tirar o seu da reta, rapidinho!

Não lembro exatamente quando, mas um bocudo lá de Brasília caiu na asneira de dizer (na época em que foi descoberto mais um escândalo no ensino público, onde foram detectados inúmeros professores-fantasmas) que seriam instalados relógios de ponto digitais nas escolas.

Bom, o malfadado político, obviamente mal assessorado, esqueceu apenas que, várias escolas no Brasil sequer têm espaço decente para os alunos, com alunos assistindo aulas embaixo de bananeiras, ou em salas improvisadas com lonas.

Fico impressionado com o tanto de especialistas que apresentaram um sem-número de soluções para o caso do atirador.

Aproveito para abrir aspas e perguntar aos religiosos, independente da religião: vocês rezaram pelo rapaz que disparou os tiros?
Ou também condenaram o pobre-diabo, como o fez apressadamente a sociedade?
Ora, nas escritas sagradas não os ensinaram a perdoar a TODOS?

O fato é que, como vende padaná, a notícia estampou a capa das principais revistas semanais, ocupou um tempo considerável nos telejornais, nas rádios e nos programas especializados em entreter o público com a desgraça alheia.

O povo brasileiro, bobo que só, ficou perplexo!

Hoje, 18/04/11, praticamente ninguém comenta mais nada sobre o caso.

Ah, a polícia, mais do que depressa, tratou de prender aqueles que venderam ou intermediaram a venda das armas ao rapaz, dando uma resposta imediata à sociedade que clamava por um bálsamo.

Nooossaaaaa!

Parabéns à polícia, que elucidou rapidamente o caso!

O delegado, satisfeito com a prisão dos 3 acusados, negou-se a seguir qualquer linha de investigação que fosse divergente do que era conveniente e polêmico.

Porque então, não agem da mesma maneira quando crimes "não famosos" são cometidos?

Porque não dão Ibope, né?

Ou será que os extermínios ocorridos em favelas e bairros pobres, onde predomina o abandono do Poder Público não são considerados massacres, chacinas?

Mas, porque resolvi escrever somente agora?

Ora, porque a população brasileira crucifica um ato isolado, embora demasiadamente violento, mas não está nem aí para os crimes cometidos diariamente!

Como aquele da garotinha exibida no Globo Repórter (que tratou do descaso na Saúde Pública), que morreu praticamente na frente da equipe de reportagem, com a médica indignada por não poder fazer o que jurou quando recebeu o seu diploma: salvar vidas!

Milhões e milhões de reais desviados, sem que qualquer filho da puta tenha sido preso!

Quando se consegue por a mão nesses canalhas, por mais que sejam processados e condenados, o dinheiro desviado já era!

Somemos quantos inocentes morrem, diariamente, por falta de um Sistema Público de Saúde decente e, no decorrer de um ano, teremos muitos assassinos do colarinho branco!

Pior: não são manchetes nos jornais, não estampam capas de revistas e, se bobear, são reeleitos com uma maioria esmagadora de votos!

Tudo isso, se considerarmos apenas as vítimas dos canalhas da saúde!

Sequer falamos dos inocentes que, acreditem, morrem de inanição, em pleno Século XXI!

É isso aí, meus caros...

“O Monstro de Realengo” jaz, inofensivo, enquanto os “Monstros Assassinos” continuam no poder, vivinhos da silva, embolsando verbas, superfaturando obras e matando, diariamente, com o aval da população!

(*) Luiz Henrique Prieto é integrante do Núcleo de Comunicação da CUFA - Central Única das Favelas, Base Belo Horizonte e colunista da CUFA BRASIL.


Contatos: http://www.cufa.org.br/ / http://www.cufabh.org/ / Twitter: @LHprieto

terça-feira, 29 de março de 2011

NEGRITUDE, SEXUALIDADE E PRECONCEITO




A COISA TÁ BRANCA, BIBA!



(by Luiz Henrique Prieto)




A semana foi recheada de reuniões, debates, seminários e muita conversa, principalmente sobre temas polêmicos.

Começamos no domingo, com a participação de um humorista mineiro, Thiago Carmona, vencedor do quadro “Risadaria”, contando piadas sobre racismo, passamos pelo “Momento de Prosa”, realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte e terminamos com o “II Seminário do Programa de Ações Integradas e Referenciais – PAIR”, cujo tema foi o “Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes”.

O humorista arrancou risos da platéia, quando fez o comparativo entre as cores preta e branca.

Colocado de maneira lúdica, realmente é engraçado.

Mas, basta tirar os aplausos, a risadaria e a coisa bate feio, tipo um soco na boca do estômago.

No imaginário popular, preto significa tudo aquilo de ruim, de pesado, de imundo que a vida possa oferecer.

Frases do tipo “a coisa tá preta” ou “seu nome está negativado”, revelam uma pré disposição para que possamos associar a cor preta a coisas realmente desagradáveis.

Ninguém diz “brancativo”, quando quer afirmar algo, mas diz “negativo”, quando a coisa tá ruim!

Preto simboliza a morte, quando estamos de luto.

Depois que discriminação racial virou crime, deixamos descaradamente de chamar “aquele negão” e passamos a chamá-lo de “afro-descendente”.

Pior ainda: “Aquele rapazinho moreno escuro, sabe? Aquele escurinho...

Qual é o problema em dizer “Aquele rapaz negro”?

Do meu humilde ponto de vista, acredito que a maldadade está nos olhos de quem vê e não propriamente na situação em si.

Coincidentemente, na terça-feira, caiu em minhas mãos um livro, cujo título “Minha Mãe é Negra Sim!” (Patrícia Santana - Ed. Maza), que chamou bastante a minha atenção.

Com texto direcionado para o público infanto-juvenil, o livro traz a história de um garoto que, ao fazer um desenho de sua mãe e tentar colorí-lo de preto, teve a atenção chamada pela professora.

A mestra, ao invés de incentivar a criança, sugeriu à mesma que colorisse o desenho de outra cor.

Ora, se a mãe do garoto era preta, que outra cor poderia preencher o desenho?

Encurtando a história, o avô do garoto contou-lhe toda a trajetória dos ancestrais africanos e reafirmou a importância desta raça para a humanidade, sem florear ou colocar panos quentes no assunto.

E a criança, com muito orgulho, coloriu a mãe-preta!

Durante o “Momento de Prosa”, debate realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte, com a participação de integrantes do Núcleo Étnicoracial da Secretaria Municipal de Educação e da Coordenadoria da Promoção Racial – CPIR, várias questões acerca da negritude foram levantadas: discriminação no mercado de trabalho, baixa auto-estima dos pretos e o maldito legado que a sociedade herdou dos tempos do Brasil-Império.

Segundo o relato de uma das participantes, quando a mesma adentrou no elevador social do prédio onde mora, foi tirada aos berros pela nova síndica, que indicou o elevador de serviços para “aquela serviçal”.

Outro relato interessante, é do casal preto e branco (um negão e uma loira), em um carro de luxo. A branca, com um filho recém nascido no colo, por questões de segurança senta no banco traseiro, ao passo que o marido, preto, assume a direção do veículo. Uma amiga aproxima-se da janela traseira do carro e diz prá branca: "Uau, que chique, hein? Tá até com motorista particular!"

Tsc, tsc...

Sem falar na barreira psíquica que a própria família impõe aos filhos!

Preto não se mistura, tem que ficar no seu lugar”!

Quê isso, meu filho? Já viu dentista pretinho? Larga esse livro e vai ajudar seu pai na construção”!

"Preto somente tem direito a sub-emprego"!

Ia me esquecendo de um dado, no mínimo, curioso: sabiam que na Rede Pública de Saúde a consulta de uma mulher preta ao ginecologista é mais rápida qua a consulta de uma mulher branca?

Falar “preto”, o tempo todo, pode parecer preconceito, mas é proposital!

Aprendi com um grande preto, Celso Athayde, que não temos que ficar maquiando nada.

Preto é preto e pronto!

E eu, que sou um preto banhado em água sanitária, o que resulta num “moreno pardo”, me sinto à vontade de continuar chamando o meu amigo de Negão, sem ter a preocupação de estar ou não cometendo um crime.

Situação difícil, né?

Minha cor não está na cartela oficial de cores!

Não existe lápis de cor parda, camisa parda, terno pardo, meia parda.

Pardo mesmo, só o molho da galinha!

Logo, sou um preto desbotado e não tenho nenhuma vergonha em assumir a minha condição!

Prosseguindo no tema preconceito, eis que me cai nas mãos o seguinte trecho: “Respeito o amor entre duas pessoas, como quem respeita o amor entre duas almas, independente de sexo, raça, condição social... Se o Espiritismo não for capaz de me ensinar isto, presentemente na Terra não existe esperança para mim!... Não estranhem. Eu estou me referindo a Amor...

O trecho foi extraído do livro “O Evangelho de Chico Xavier” e a frase é de autoria do mesmo.

O tema veio a calhar durante o “II Seminário do Programa de Ações Integradas e Referenciais – PAIR, Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes”, pois foi levantada a questão da mudança na estrutura da família tradicional.

Como lidar com essa mudança?

O filho de um casal, cuja base familiar é uma relação homoafetiva, merece ser discriminado pelos colegas e pela sociedade?

Há pouco tempo atrás, filho de mãe solteira era uma doença. Filhos adotivos também!

Hoje, filhos de “bichas” e “sapatões” sofrem na pele a desgraça da discriminação.

Mas, como lidar com essas novidades?

Transferindo a responsabilidade para as Escolas, para os Educadores!

(Pelo menos esse é o pensamento geral).

Sexo é assunto proibido no círculo familiar!

Sexualidade? Que porra é essa?

Polêmicas, polêmicas e mais polêmicas...

A criança não tem a mesma leitura da sexualidade que um adulto!

Tanto é que, quando crianças, não nos importávamos de andar de mãos dadas com o coleguinha do mesmo sexo, muito menos de abraçá-lo, ou de beijar-lhe a face.

Depois de marmanjos, quando vemos alguém expressando tal forma de carinho publicamente, logo pensamos: “alá as bichonas!" (ou sapatonas, como queiram).

O que era puro e permitido na infância, torna-se sujo e proibido na fase adulta.

Perdemos a essência da bondade e adquirimos a essência da maldade.

Ocorre a demonização da sexualidade!

Tem remédio?

Sim, a começar pela Orientação, dentro do próprio circulo familiar!

Não existe um manual de procedimentos, ou um livro qualquer que vá lhe ensinar a orientar a sua prole para as novidades da socieade moderna.

Aliás, se nem você sabe como lidar com a sua própria sexualidade, como vai ensinar a alguém?

Para encerrar o tema “proibidão”, uma frase do psicanalista Paulo Roberto Cecarelly resume a demonização da sexualidade: “A reação do adulto, ante o flagrante de uma criança que, porventura, esteja descobrindo a sua sexualidade através de brincadeiras inocentes é que irá definir se aquilo é sujo e proibido ou se é algo saudável”.

Fechando a coluna de hoje, um dado alarmante, trazido pelo Bel. Felipe Falles, da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente – DEPCA, de Belo Horizonte: são registrados, anualmente, cerca de 7.800 (sete mil e oitocentas) denúncias de abuso sexual contra crianças e adolescentes, somente no município de Belo Horizonte!

O contingente da DEPCA? Dois delegados e 20 (vinte) investigadores!

Tirem suas próprias conclusões!



(*) Luiz Henrique Prieto é integrante do Núcleo de Comunicação da CUFA - Central Única das Favelas, Base Belo Horizonte e colunista da CUFA BRASIL.


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terça-feira, 8 de março de 2011

DIA INTERNACIONAL DA MULHER - NEUSA BAPTISTA

DO DIREITO DAS MULHERES NEGRAS SE SENTIREM MULHERES


(by Neusa Baptista)

Há cerca de duas semanas, cortei curtinho meu cabelo.
O cabelo, aliás, me surpreende a cada dia com sua capacidade de revelar e provocar.
Foi o que aconteceu desta vez.
Por onde eu andava, cabeças masculinas e femininas se viravam para ver meu cabelo.
A princípio, pensei comigo mesma: “O que foi que eu fiz?”
Sentia-me menos mulher e ao mesmo tempo pensava: “Agora preciso me vestir com muita feminilidade, pois com este cabelo curto, posso passar por homem”.
De repente me vi numa loja de 1.99, em meio à tic-tacs, lacinhos, brincos coloridos e outras coisas. Na ânsia de mostrar o quão feminina era, tornei-me mais feminina mesmo!
Em atos e palavras!
Por que isso não tinha acontecido antes?
Com meu cabelo crespo e curto, recebi muitos olhares de reprovação, riso, espanto. Além de crespo, ainda curto! Pasmem!
Comentei com meu cabeleireiro (Jair Vip’s, um beijo!) que “mulher de cabelo curto sofre preconceito” e ele ficou espantado!
Aos poucos, fui me acostumando e aprendendo a “dominar” o meu curtinho, de modo que ele parecesse ao mesmo tempo, natural e bem cuidado.
Engraçado!
É só a gente começar a se achar bonita que as pessoas em volta fazem coro!
O contrário também acontece, claro.
Quer que os outros falem bem de você? Comece a falar bem de você!
E isso não pode ser do tipo “Eu sou o máximo”, mas do tipo “Nós podemos ser o máximo juntos”.
Piegas, né? Não consegui pensar em nada melhor. Rs. Enfim.
O meu cabelo curtinho me obrigou a pensar mais em minha feminilidade.
E isso se deu ainda somado ao fato de ele ser crespo.
Isto é, geralmente, os homens negros utilizam o cabelo raspado e as mulheres alisado. Portanto, o fato de eu ser negra não me ajudava muito mesmo.
Mas se tem uma coisa que eu gosto é de chamar a atenção para o meu cabelo!
Sério.
Quando meu cabelo não chama a atenção, eu acho que ele não cumpriu seu papel, que é o de ser mensageiro de algo positivo sobre a negritude. Enfim.
Tal como ocorreu há muitos anos com o meu penteado rastafári, o curto, que a princípio parecera ‘feio’ e ‘masculino’ se revelou, na verdade, versátil, irreverente, delicado e feminino!
Mas a meu ver, isso só aconteceu porque era crespo, e porque eu sou negra, e sou mulher!
Muitos papéis, significados, lugares, atitudes a tomar...
Para prá pensar: se a mulher branca (ou não negra) já tem problemas, pensa na negra! Pensa!
Então, por isso quando vejo uma mulher negra se destacando, não sei da vida íntima dela, mas imagino que deva ter enfrentado alguns obstáculos que poderiam ter sido evitados se o País fosse menos racista, machista etc.
Por isso, neste 8 de Março, um abraço especial a todas as mulheres pretas (negras, pardas, índias, gordinhas, baixinhas, comuns) do Brasil.
Vocês são foda.

Neusa Baptista é integrante do Núcleo Maria-Maria da CUFA – Central Única das Favelas, Base Cuiabá – Mato Grosso.

Contatos:
www.cufa.org.br / www.cufa.org.br/matogrosso / www.projetopixaim.blogspot.com

DIA INTERNACIONAL DA MULHER


Texto: Clarissa Cavalcanti (Cufa -Sc)
Arte Design: Ana Ostapenko (Cufa - Ms)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Prêmio Anu - por Siro Darlan



O PRÊMIO ANU E A DIGNIDADE DA PERIFERIA
(by Siro Darlan)


Foi emocionante a entrega do Premio Anu aos melhores projetos sociais destinados a melhorar as condições de vida das pessoas que vivem nas favelas e periferias das cidades.
Ver O Teatro Municipal do Rio de Janeiro lotado de pessoas humildes e solidárias com seus irmãos mais desafortunados foi como ver como será o amanhã desse grande país onde nascemos e vivemos.
Resgatando as palavras de São Paulo na Carta aos Coríntios: "também a minha palavra e a minha pregação não tinham nada dos discursos persuasivos da sabedoria, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé se baseasse no poder de Deus, e não na sabedoria dos homens”. A premiação das ações positivas arquitetadas por pessoas humildes, mas solidárias para ajudar a dar dignidade aos co-irmãos é mais que um grito de superação das dificuldades, é um testemunho da vitória contar o preconceito e as desigualdades.

Nada melhor do que o Cantinho do Zito, uma horta para ensinar as crianças pobres do Acre a lavrar a terra e tirar da natureza o seu sustento com respeito ao meio ambiente e caminho para inclusão social. Já Alagoas optou por ações culturais do Projeto Erê para resgatar a dignidade das crianças de rua de Maceió, enquanto Amapá investe no Reforço Escolar para incluir jovens da periferias através da educação, assim como Amazonas que também optou pela educação dos povos indígenas.

A Bahia criou o programa um milhão de cisternas para combater a seca que assola a região do agreste baiano para erradicar a exclusão social e o Ceará partiu para a inclusão digital desenvolvendo na favela do Pirambu o Projeto Bila com a criação de uma Biblioteca Popular para estimular a leitura e promover a inclusão digital.
O Distrito Federal utiliza a música e a cultura através do Projeto Batuqueiros para gerar empregos e melhorar as condições das famílias que vivem em locais de baixo índice de desenvolvimento humano.

O Espírito Santo criou um Centro Cultural onde leva aos jovens em vulnerabilidade social a formação cultural, esportiva, humana e lazer.
Goiás optou pela erradicação do trabalho infantil promovendo o crescimento intelectual na busca do exercício pelo da cidadania.
Já o Maranhão buscou alternativas de inserção no mundo do trabalho através do Projeto “O sonho dos Erês”, e Mato Grosso construiu num bairro com péssimas condições de saneamento básico o Balé da Flauta Mágica com promoção do desenvolvimento familiar sobre educação, sexo e drogas.

Mato Grosso do Sul com o Projeto Tecelagem Indígena promove nas aldeias os pontos de leitura, de Hip-Hop, de tecelagem indígena e outras atividades artísticas.
Minas Gerais prepara jovens de comunidades carentes de Belo Horizonte para serem agentes transformadores nos locais onde vivem, atuando na prevenção das DST/AIDS e da gravidez não planejada.
O Pará criou Novas Práticas Educativas através da Rádio Margarida que promove a valorização dos direitos humanos e cidadania, meio ambiente, saúde, arte, comunicação social e cultura.
A Paraíba educando o povo na colheita de água da chuva nas cisternas, telhados e lajeados através do Projeto Recursos Hídricos – Acesso e Manejo sustentável, beneficiando 713 famílias do sertão.

O Paraná criou uma forma de renda adicional ensinando a produzir materiais de limpeza caseiros e Pernambuco com a Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares incentiva a leitura e a construção de novos cidadãos e leitores.
Enquanto Piauí articulou ações no campo da mobilização social e educação ambiental capacitando jovens de baixa renda para a produção e comercialização de doces de frutas tropicais e o Rio de Janeiro criou uma oficina de teatro com atores da comunidade que através do Espetáculo Urucubaca oferece uma reflexão sobre a vida contemporânea e uma visão bem-humorada de temas como amor, sexo e violência.

O Rio Grande do Norte optou pela alfabetização de idosos, ocasião na qual além de aprender a ler e escrever, são iniciados em atividades laborativas com aulas de fuxico, crochê, desenhos, pinturas e atividades lúdicas que estimulam a manter a mente sempre ativa. Enquanto no sul o outro Rio Grande investe na vulnerabilidade social e pessoa de jovens ensinando a fazer o pão. É o que faz o Projeto Orfolinho BBPO com cursos de panificação e confeitaria.

Rondônia com o Projeto Marias atende meninas entre 11 e 18 anos oferecendo atividades que encorajem a visualizar possibilidades futuras através de atividades como visitas domiciliares, palestras, atendimento médico, esportes, orientação psicológica e cursos profissionalizantes; e Roraima para suprir as necessidades das famílias abaixo da linha da pobreza criou as hortas comunitárias, oferecendo desse modo instrumentos de sobrevivência e uma convivência familiar sadia.

Santa Catarina desenvolve ações preventivas, educativas e conscientização dos efeitos maléficos do uso de crack em parceria com a Comunidade Unida contra o crack; e São Paulo criou o Cine Favela para promover na comunidade debates reflexivos e promover o protagonismo de sua própria história.

Sergipe emocionou a todos com o trabalho social de um vendedor de picolé que trabalha e pede dinheiro nos sinais de trânsito para sustentar 80 crianças que freqüentam a creche Ação Solidária Almir do Picolé; e Tocantins priorizou a qualidade de vida do povo da floresta ensinando atividades na área da beleza física ensinando a valorizar o corpo e a ações cidadãs.

Assim o povo da periferia com a liderança da CUFA começa sua revolução cultural pacífica para dar vez e voz às comunidades excluídas. A Ocupação do Teatro Municipal foi de um simbolismo ímpar, pleiteando com ações positivas a igualdade de oportunidades e respeito aos diretos fundamentais de todos os brasileiros.

(Siro Darlan é Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a Democracia)

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

DIA DA NÃO-VIOLÊNCIA


VIOLÊNCIA? NÃO, OBRIGADO!





(Luiz Henrique Prieto)








Dia 30 de Janeiro foi proclamado pela ONU - Organização das Nações Unidas, como o "Dia Internacional da Não-Violência.
Contudo, não vi, muito menos ouvi, qualquer meio de comunicação manifestando-se a respeito de uma data que, teoricamente, é de suma importância para toda a humanidade.
Nem mesmo o Google, que sempre altera o leiaute da sua página, em homenagem a datas históricas, prestou-se a esse lembrete.

Em 30 de janeiro de 1948, Mahatma Gandhi, o maior símbolo na luta pela não-violência, foi brutalmente assassinado, por um fanático que não aceitava suas ideologias.

Sempre que ouvimos o termo “violência”, a primeira imagem que vem à cabeça são os crimes violentos, guerras, atentados, sangue, muito sangue.

Violência: s.f. 1 uso de força física 2 ação de intimidar alguém moralmente ou o seu efeito 3 ação frequentemente destrutiva, exercida com ímpeto, força 4 expressão ou sentimento vigoroso, fervor (Houaiss – Dicionário de Língua Portuguesa)

Não vamos discorrer sobre as formas de violência supracitadas.

Mesmo porque, a mídia encarrega-se disto, diuturnamente, sem tréguas.
O que trazemos a lume, são as demais formas de violência implícitas nos itens 2 e 3 da definição de Houaiss.

Cercear os direitos de crianças, mulheres, adolescentes, idosos e portadores de necessidades especiais, é uma forma de violência.
A agressão aos animais, à natureza ou ao meio ambiente, também são formas de violência.

Tudo aquilo que mata, rouba, agride, depreda, força, obriga, enfim, é imposto, é violento.

Quando um criminoso ceifa a vida de alguém, não violentou apenas a vítima, mas todas as pessoas com as quais ela tem laços, familiares ou não.

Roubam-se sonhos. Furtam-se esperanças. Matam-se realidades.

A ONU proclamou a primeira década do Século XXI (2000-2010), como o “Decênio Internacional para a Promoção de uma Cultura de Paz e Não-Violência para as Crianças do Mundo”.

Contudo, o que vimos eclodir na década passada foram os inúmeros casos de pedofilia, a nível internacional, incluindo segmentos religiosos, artistas famosos, políticos, dentre outros.
Gente que, por princípios e por obrigação moral para com a sociedade, deveria primar pelos direitos das crianças.
Não que o “fenômeno da pedofilia” seja algo recente. Sempre existiu.


A diferença é que, de uns tempos prá cá, as vítimas criaram coragem e denunciaram seus algozes. Nas cidades interioranas, é comum a família aprovar o casamento de filhas em tenra idade com fazendeiros poderosos (e muito mais velhos). Não raros os casos, realizam-se leilões onde a virgindade de uma adolescente é vendida, como se fosse um mero objeto.
Piorando um pouquinho o quadro das crianças e adolescentes, o regime patriarcal impera nas pequenas comunidades!
Através deste, o pai se acha no direito de servir-se sexualmente de suas filhas e esposas.

Para as mulheres, as coisas começaram a caminhar, ainda que de forma vagarosa, para um final feliz.
Com a entrada em vigor da “Lei Maria da Penha”, as vítimas de agressão passaram a ter à sua disposição instrumentos legais não apenas para remediar situações violentas, mas também para prevenir possíveis agressões.


Contam com medidas protetivas, inclusive de urgência, aplicadas imediatamente após o registro de queixa na Delegacia de Proteção à Mulher.
Contudo, a agressão não começa com tapas, socos, ou com agressões físicas.

Acompanhem “O Ciclo da Violência Doméstica”, descrito através do twitter pela Bel. Sheyla Starling, Delegada de Polícia da Divisão da Mulher, do Idoso e do Deficiente de Minas Gerais:

“A agressão não precisa ser só física, pode ser verbal, psicológica e até patrimonial (homem que quebra o celular da mulher por ciúme, por exemplo).
Quando a mulher conhece um cara violento, ele não se revela assim no início.
A paquera é normal.
Com o tempo de namoro (podem ser poucas semanas ou meses), o homem vai se revelando agressivo em determinadas situações.
A violência começa com agressões verbais, geralmente humilhando ou ofendendo a mulher, muitas vezes, na presença de outras pessoas. É muito comum o homem chamar a mulher de vagabunda, desgraçada, piranha, filha da puta (tô relatando o que eu ouço em todos os meus plantões). Esses xingamentos ocorrem mesmo quando a mulher não tem qualquer comportamento vulgar ou de infidelidade. As agressões verbais vão se repetindo e a mulher vai relevando: ‘mas ele nunca encostou a mão em mim’. As mulheres elaboram desculpas pros agressores, chegando a argumentar que elas próprias iniciaram a discussão, ou que provocaram aquele comportamento.
Até que chega o dia em que se inicia a violência física: pode ser um simples tapa, um empurrão, ou um puxão de cabelo. No geral, a violência é escalonada.
É como se fosse um ‘teste’ em que o agressor analisa se a vítima aceita ou não a agressão.
Se não aceitar, foi só um tapa...
Se aceitar, as agressões progridem para lesões mais graves.
No momento em que a mulher toma coragem e denuncia o agressor, no geral ele se mostra arrependido, amoroso, carinhoso, jura que aquilo nunca mais vai ocorrer.
A mulher cede. Segue-se um período que, no ciclo, chamamos ‘lua-de-mel’. O agressor dá uma trégua, pra que a mulher baixe suas defesas novamente. Após esse período, reiniciam-se as agressões verbais, e o ciclo progride da mesma forma. Esse ciclo pode levar poucas semanas, vários meses ou anos. Não importa se ele te xinga, ‘mas nunca te encostou a mão’. Pode saber que, mais cedo ou mais tarde, isso vai ocorrer, em razão do ciclo. O homem com esse perfil NÃO TERMINA O RELACIONAMENTO.
O ciclo só vai se romper por iniciativa da mulher, muitas vezes com perseguições do companheiro. Às vezes ele já está com outra mulher, mas não aceita o fim da relação. Um homem com esse perfil dificilmente vai mudar espontaneamente. As agressões estão muitas vezes ligadas a vício com drogas, na maioria álcool.
Meninas, quando conhecerem alguém, prestem atenção no ambiente em que essa pessoa cresceu. O pai batia na mãe? O ambiente é violento? Esse homem faz uso excessivo de álcool ou outras drogas? São sempre sinais de alerta. Protejam-se e não deixem a violência escalar. Tem muita gente bacana no mundo, não é? Ninguém precisa ficar atrelado a um relacionamento violento”.

Quem violenta esquece. Quem é violentado, jamais!

Estão aí as catástrofes naturais, que reforçam o dito popular reescrito para este artigo.

A natureza, há décadas, vem sofrendo agressões, sem dó nem piedade!
Impomos cursos aos rios, represamos as águas, matamos as nascentes, poluímos, desmatamos, arrancamos árvores, construímos em encostas, destruímos diversos ecossistemas e nunca estivemos nem aí prá isso.
O resultado está aí: o clima, uma loucura só!
Tempestades, deslizamentos, mortes, tragédias.

É a natureza respondendo às agressões que sofreu!

No tocante à violência silenciosa, temos o bullying (tema em alta na mídia, mais pelo nome bacana do que pela real problemática social), o assédio moral (que ocorre com bastante frequência nos escritórios) e, no meu conceito, a mais grave de todas: A EXCLUSÃO SOCIAL!

Sim!
A partir do momento em que o Governo não assegura ao povo o acesso a direitos básicos, quer seja material ou moralmente, também está praticando violência.

Vida Digna” é o que pretende a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Mas, quantos de nós, temos acesso à educação, lazer, saúde e moradia dignos?

Somos violentados diariamente, mas não enxergamos porque “ele nunca me encostou a mão”.

E relevamos!

Agredir, seja da maneira que for, agrada apenas e tão somente ao agressor.
Faz com que ele se sinta onipontente!

Mas, como mudar isso?

Começando por tratar como iguais, os nossos irmãos menos favorecidos.
Deixando de menosprezar os mais humildes.

Respeitando as diferenças.
Sendo gentis com os ignorantes.
Não respondendo às provocações.
Pagando, com honestidade, àqueles que nos roubam!

Batalhando, de forma pacífica e organizada, pelos nossos direitos fundamentais.

Tomemos como exemplo, o adestramento de cães: a grande maioria não sofre castigos ou qualquer tipo de agressão!
Muito pelo contrário: recebem carinho, recompensas e aprendem brincando.

E, à medida que são orientados, de maneira correta, retribuem com disciplina, amor, companheirismo e respeito.

A não ser, é claro, aqueles que são “adestrados” para a violência.

Façamos a diferença, não só no dia 30 de janeiro, mas em TODOS OS DIAS DO ANO!

Se adotarmos a filosofia que "um tapinha não dói", estaremos num caminho sem volta, fadados à nossa própria extinção.

"O que quer que façam conosco, não iremos atacar ninguém, nem matar ninguém.
Estou pedindo que vocês lutem, que lutem contra o ódio deles, não para provocá-los.
Nós não vamos desferir socos, mas tolerá-los!
E, através do nosso sofrimento, faremos com que vejam suas próprias injustiças.
E isso irá ferí-los, como todas as lutas ferem.
Mas não podemos perder, não podemos...
Eles poderão torturar o meu corpo, quebrar os meus ossos, até me matar.
Então, terão meu corpo inerte, mas não a minha obediência".


Mahatma Gandhi




(*) Luiz Henrique Prieto é integrante do Núcleo de Comunicação da CUFA - Central Única das Favelas, Base Belo Horizonte e colunista da CUFA BRASIL.

Contatos:
www.cufa.org.br / www.cufabh.org / Twitter: @LHprieto

Referências:
www.twitter.com/sheylastarling
http://www.adital.com.br/
http://www.wikipedia.org/