segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

DIA DA NÃO-VIOLÊNCIA


VIOLÊNCIA? NÃO, OBRIGADO!





(Luiz Henrique Prieto)








Dia 30 de Janeiro foi proclamado pela ONU - Organização das Nações Unidas, como o "Dia Internacional da Não-Violência.
Contudo, não vi, muito menos ouvi, qualquer meio de comunicação manifestando-se a respeito de uma data que, teoricamente, é de suma importância para toda a humanidade.
Nem mesmo o Google, que sempre altera o leiaute da sua página, em homenagem a datas históricas, prestou-se a esse lembrete.

Em 30 de janeiro de 1948, Mahatma Gandhi, o maior símbolo na luta pela não-violência, foi brutalmente assassinado, por um fanático que não aceitava suas ideologias.

Sempre que ouvimos o termo “violência”, a primeira imagem que vem à cabeça são os crimes violentos, guerras, atentados, sangue, muito sangue.

Violência: s.f. 1 uso de força física 2 ação de intimidar alguém moralmente ou o seu efeito 3 ação frequentemente destrutiva, exercida com ímpeto, força 4 expressão ou sentimento vigoroso, fervor (Houaiss – Dicionário de Língua Portuguesa)

Não vamos discorrer sobre as formas de violência supracitadas.

Mesmo porque, a mídia encarrega-se disto, diuturnamente, sem tréguas.
O que trazemos a lume, são as demais formas de violência implícitas nos itens 2 e 3 da definição de Houaiss.

Cercear os direitos de crianças, mulheres, adolescentes, idosos e portadores de necessidades especiais, é uma forma de violência.
A agressão aos animais, à natureza ou ao meio ambiente, também são formas de violência.

Tudo aquilo que mata, rouba, agride, depreda, força, obriga, enfim, é imposto, é violento.

Quando um criminoso ceifa a vida de alguém, não violentou apenas a vítima, mas todas as pessoas com as quais ela tem laços, familiares ou não.

Roubam-se sonhos. Furtam-se esperanças. Matam-se realidades.

A ONU proclamou a primeira década do Século XXI (2000-2010), como o “Decênio Internacional para a Promoção de uma Cultura de Paz e Não-Violência para as Crianças do Mundo”.

Contudo, o que vimos eclodir na década passada foram os inúmeros casos de pedofilia, a nível internacional, incluindo segmentos religiosos, artistas famosos, políticos, dentre outros.
Gente que, por princípios e por obrigação moral para com a sociedade, deveria primar pelos direitos das crianças.
Não que o “fenômeno da pedofilia” seja algo recente. Sempre existiu.


A diferença é que, de uns tempos prá cá, as vítimas criaram coragem e denunciaram seus algozes. Nas cidades interioranas, é comum a família aprovar o casamento de filhas em tenra idade com fazendeiros poderosos (e muito mais velhos). Não raros os casos, realizam-se leilões onde a virgindade de uma adolescente é vendida, como se fosse um mero objeto.
Piorando um pouquinho o quadro das crianças e adolescentes, o regime patriarcal impera nas pequenas comunidades!
Através deste, o pai se acha no direito de servir-se sexualmente de suas filhas e esposas.

Para as mulheres, as coisas começaram a caminhar, ainda que de forma vagarosa, para um final feliz.
Com a entrada em vigor da “Lei Maria da Penha”, as vítimas de agressão passaram a ter à sua disposição instrumentos legais não apenas para remediar situações violentas, mas também para prevenir possíveis agressões.


Contam com medidas protetivas, inclusive de urgência, aplicadas imediatamente após o registro de queixa na Delegacia de Proteção à Mulher.
Contudo, a agressão não começa com tapas, socos, ou com agressões físicas.

Acompanhem “O Ciclo da Violência Doméstica”, descrito através do twitter pela Bel. Sheyla Starling, Delegada de Polícia da Divisão da Mulher, do Idoso e do Deficiente de Minas Gerais:

“A agressão não precisa ser só física, pode ser verbal, psicológica e até patrimonial (homem que quebra o celular da mulher por ciúme, por exemplo).
Quando a mulher conhece um cara violento, ele não se revela assim no início.
A paquera é normal.
Com o tempo de namoro (podem ser poucas semanas ou meses), o homem vai se revelando agressivo em determinadas situações.
A violência começa com agressões verbais, geralmente humilhando ou ofendendo a mulher, muitas vezes, na presença de outras pessoas. É muito comum o homem chamar a mulher de vagabunda, desgraçada, piranha, filha da puta (tô relatando o que eu ouço em todos os meus plantões). Esses xingamentos ocorrem mesmo quando a mulher não tem qualquer comportamento vulgar ou de infidelidade. As agressões verbais vão se repetindo e a mulher vai relevando: ‘mas ele nunca encostou a mão em mim’. As mulheres elaboram desculpas pros agressores, chegando a argumentar que elas próprias iniciaram a discussão, ou que provocaram aquele comportamento.
Até que chega o dia em que se inicia a violência física: pode ser um simples tapa, um empurrão, ou um puxão de cabelo. No geral, a violência é escalonada.
É como se fosse um ‘teste’ em que o agressor analisa se a vítima aceita ou não a agressão.
Se não aceitar, foi só um tapa...
Se aceitar, as agressões progridem para lesões mais graves.
No momento em que a mulher toma coragem e denuncia o agressor, no geral ele se mostra arrependido, amoroso, carinhoso, jura que aquilo nunca mais vai ocorrer.
A mulher cede. Segue-se um período que, no ciclo, chamamos ‘lua-de-mel’. O agressor dá uma trégua, pra que a mulher baixe suas defesas novamente. Após esse período, reiniciam-se as agressões verbais, e o ciclo progride da mesma forma. Esse ciclo pode levar poucas semanas, vários meses ou anos. Não importa se ele te xinga, ‘mas nunca te encostou a mão’. Pode saber que, mais cedo ou mais tarde, isso vai ocorrer, em razão do ciclo. O homem com esse perfil NÃO TERMINA O RELACIONAMENTO.
O ciclo só vai se romper por iniciativa da mulher, muitas vezes com perseguições do companheiro. Às vezes ele já está com outra mulher, mas não aceita o fim da relação. Um homem com esse perfil dificilmente vai mudar espontaneamente. As agressões estão muitas vezes ligadas a vício com drogas, na maioria álcool.
Meninas, quando conhecerem alguém, prestem atenção no ambiente em que essa pessoa cresceu. O pai batia na mãe? O ambiente é violento? Esse homem faz uso excessivo de álcool ou outras drogas? São sempre sinais de alerta. Protejam-se e não deixem a violência escalar. Tem muita gente bacana no mundo, não é? Ninguém precisa ficar atrelado a um relacionamento violento”.

Quem violenta esquece. Quem é violentado, jamais!

Estão aí as catástrofes naturais, que reforçam o dito popular reescrito para este artigo.

A natureza, há décadas, vem sofrendo agressões, sem dó nem piedade!
Impomos cursos aos rios, represamos as águas, matamos as nascentes, poluímos, desmatamos, arrancamos árvores, construímos em encostas, destruímos diversos ecossistemas e nunca estivemos nem aí prá isso.
O resultado está aí: o clima, uma loucura só!
Tempestades, deslizamentos, mortes, tragédias.

É a natureza respondendo às agressões que sofreu!

No tocante à violência silenciosa, temos o bullying (tema em alta na mídia, mais pelo nome bacana do que pela real problemática social), o assédio moral (que ocorre com bastante frequência nos escritórios) e, no meu conceito, a mais grave de todas: A EXCLUSÃO SOCIAL!

Sim!
A partir do momento em que o Governo não assegura ao povo o acesso a direitos básicos, quer seja material ou moralmente, também está praticando violência.

Vida Digna” é o que pretende a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Mas, quantos de nós, temos acesso à educação, lazer, saúde e moradia dignos?

Somos violentados diariamente, mas não enxergamos porque “ele nunca me encostou a mão”.

E relevamos!

Agredir, seja da maneira que for, agrada apenas e tão somente ao agressor.
Faz com que ele se sinta onipontente!

Mas, como mudar isso?

Começando por tratar como iguais, os nossos irmãos menos favorecidos.
Deixando de menosprezar os mais humildes.

Respeitando as diferenças.
Sendo gentis com os ignorantes.
Não respondendo às provocações.
Pagando, com honestidade, àqueles que nos roubam!

Batalhando, de forma pacífica e organizada, pelos nossos direitos fundamentais.

Tomemos como exemplo, o adestramento de cães: a grande maioria não sofre castigos ou qualquer tipo de agressão!
Muito pelo contrário: recebem carinho, recompensas e aprendem brincando.

E, à medida que são orientados, de maneira correta, retribuem com disciplina, amor, companheirismo e respeito.

A não ser, é claro, aqueles que são “adestrados” para a violência.

Façamos a diferença, não só no dia 30 de janeiro, mas em TODOS OS DIAS DO ANO!

Se adotarmos a filosofia que "um tapinha não dói", estaremos num caminho sem volta, fadados à nossa própria extinção.

"O que quer que façam conosco, não iremos atacar ninguém, nem matar ninguém.
Estou pedindo que vocês lutem, que lutem contra o ódio deles, não para provocá-los.
Nós não vamos desferir socos, mas tolerá-los!
E, através do nosso sofrimento, faremos com que vejam suas próprias injustiças.
E isso irá ferí-los, como todas as lutas ferem.
Mas não podemos perder, não podemos...
Eles poderão torturar o meu corpo, quebrar os meus ossos, até me matar.
Então, terão meu corpo inerte, mas não a minha obediência".


Mahatma Gandhi




(*) Luiz Henrique Prieto é integrante do Núcleo de Comunicação da CUFA - Central Única das Favelas, Base Belo Horizonte e colunista da CUFA BRASIL.

Contatos:
www.cufa.org.br / www.cufabh.org / Twitter: @LHprieto

Referências:
www.twitter.com/sheylastarling
http://www.adital.com.br/
http://www.wikipedia.org/